FAZENDA SANTA TEREZA

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

UM SONHO QUE A REALIDADE NÃO CONFIRMOU

             

                            
                               Semana passada, atendendo convocação da Maçonaria Brasileira estive, mais uma vez, em Brasília para participar da reunião do Conselho Federal do Grande Oriente do Brasil.
                   Normalmente hospedo-me em um Hotel localizado em local estratégico para minhas movimentações em torno do objetivo que me leva, a cada dois meses, à nossa capital Federal; desta vez, por descuido não fiz a necessária reserva e fiquei com poucas opções de escolha. Hospedei-me no Hotel Nacional.
                   Ao adentrar o hall do Hotel, senti uma estranha sensação  de “ Déjà vi” ao me dar conta de que a ultima vez que ali estive hospedado foi no final do ano de 1963, portanto há 50 anos .  Por que esta data aparece com tanto simbolismo? Para explicar a certeza desta afirmativa, recorro-me ao livro que publiquei em 2001 “Entre o Sonho do Brasil dos anos  60 e a Realidade da Rússia dos anos  90, Ed. Kelps”.
                   Antes de subir para o apartamento, dei uma volta pelo ambiente que domina o hall do Hotel; parece que pouca coisa mudara, segundo me lembro; observei as poltronas situadas nas imediações do balcão de recepção, parece que “vi”, confabulando em grupos separados, vários deputados e senadores (o Hotel era, naquela época, residência oficial dos parlamentares) , caminhei para a esquerda e avistei a piscina, que mantinha o  mesmo formato, rodeada por grande quantidade de mesas e cadeiras, “sentei-me” a uma das cadeiras e pedi um copo de chope.
                   Dentre tantos acontecimentos da minha vida de estudante universitário em Curitiba, quando exercia atividade política estudantil de vanguarda na esquerda daquela época, muitos deles narrados no meu livro citado acima, farei um resumo do capítulo (Curitiba, 1963-1964, Mudaríamos o Regime) que trata destas lembranças a que estou me referindo.
“O ambiente político no meio estudantil de Curitiba, como de resto em todo o Brasil, estava carregado de emoções naquele final do ano de 1963; Na qualidade de Presidente da Casa do Estudante Universitário, viajei, sob o patrocínio do Ministério da Educação, por intermediação do Embaixador Paschoal Carlos Magno,  para Brasília no final de 1963 com o propósito de conseguir ajuda financeira para nossa Instituição junto ao Governo Federal.
Hospedei-me, às expensas do Embaixador Carlos Magno, no Hotel Nacional e durante quase uma semana,  circulei pelos corredores do Congresso Nacional e pelas salas e gabinetes do Ministério da Educação e Cultura.
À noite, quase que invariavelmente, reuníamo-nos no apartamento do embaixador, juntamente com outros estudantes, de outros Estados, que estavam ali quase sempre pelas mesmas razões que as nossas e ficávamos "batendo papo", discutindo sobre a atualidade política, sobre os rumos que tomaríamos, caso as ideias de João Goulart fossem, realmente implementadas, sonhávamos com o futuro, procurando pontos de contato entre a nossa ideologia, o nosso desejo de mudanças, com o ideário político dos nossos dirigentes.
Gostávamos de ouvir o Embaixador falar sobre Brecht, contrapondo seu pensamento positivista, com algumas características, segundo ele, negativistas, do famoso dramaturgo e poeta alemão.
- A arte, dizia ele, levantando-se de onde estava - embora deva refletir a vida do povo, não pode ser e não é, uma corrente homogênea, como queria Brecht. Não creio que a arte só será arte, se ela se aproximar do marxismo. Embora a arte e a cultura devam estar sempre ao alcance do povo, não acho que este deva ser monitorado nas suas expressões por ideias preconcebidas.
Parece que ainda ouço o Embaixador dizer, movimentando o seu grande  corpanzil pelo quarto, com gestos teatrais e voz empolgada:
- Não deixem de lutar pela liberdade, o maior bem do homem. O homem é um animal social, como disse Aristóteles, há muitos séculos. O interesse coletivo não pode, em hipótese alguma, sobrepujar ao particular; se isto acontecer, declina-se do direito à liberdade em favor do paternalismo; por outro lado, se o individualismo impera, sem dar importância às necessidades sociais, o resultado será a anarquia. Em ambos casos, a consequência é a perda da liberdade. A liberdade trágica é preferível à felicidade compulsória, já dizia o imortal Dostoievsky. Um dia encontraremos o ponto exato!

. Eu sabia que precisava me aprofundar um pouco mais naqueles meandros culturais, se quisesse, realmente me colocar em uma posição de vanguarda para os novos tempos que, a nosso ver, estavam sendo desenhados no nosso futuro.
Foi em uma destas noitadas, que o embaixador, de uma maneira extremamente didática, explicou-nos a conotação, não só política, mas principalmente artística, segundo ele, do "Encouraçado Potemkin", filme do russo Ilya Ehrenburg, que toda a juventude daquela época, engajada nos movimentos de esquerda, assistiu, discutiu e procurou entender.
Embora a mordomia que desfrutávamos ali em Brasília fosse além das nossas expectativas (nunca havia, pelo menos sonhado, em hospedar-me em um hotel com o luxo do Nacional ), já estava cansado daquela rotina diária.
Na sexta-feira, o embaixador, assim como quase todos os deputados, senadores e funcionários do governo que se hospedavam no Hotel (naquela época o Hotel Nacional era praticamente a morada oficial deste pessoal), viajaram para seus Estados de origem. No domingo voltei parta Curitiba.”
O que aconteceu a seguir é outra história!.





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