UM SONHO QUE A REALIDADE NÃO CONFIRMOU
Semana passada,
atendendo convocação da Maçonaria Brasileira estive, mais uma vez, em Brasília
para participar da reunião do Conselho Federal do Grande Oriente do Brasil.
Normalmente
hospedo-me em um Hotel localizado em local estratégico para minhas
movimentações em torno do objetivo que me leva, a cada dois meses, à nossa
capital Federal; desta vez, por descuido não fiz a necessária reserva e fiquei
com poucas opções de escolha. Hospedei-me no Hotel Nacional.
Ao
adentrar o hall do Hotel, senti uma estranha sensação de “ Déjà vi” ao me dar conta de que a ultima
vez que ali estive hospedado foi no final do ano de 1963, portanto há 50 anos . Por que esta data aparece com tanto
simbolismo? Para explicar a certeza desta afirmativa, recorro-me ao livro que
publiquei em 2001 “Entre o Sonho do Brasil dos anos 60 e a Realidade da Rússia dos anos 90, Ed. Kelps”.
Antes
de subir para o apartamento, dei uma volta pelo ambiente que domina o hall do
Hotel; parece que pouca coisa mudara, segundo me lembro; observei as poltronas
situadas nas imediações do balcão de recepção, parece que “vi”, confabulando em
grupos separados, vários deputados e senadores (o Hotel era, naquela época,
residência oficial dos parlamentares) , caminhei para a esquerda e avistei a
piscina, que mantinha o mesmo formato,
rodeada por grande quantidade de mesas e cadeiras, “sentei-me” a uma das
cadeiras e pedi um copo de chope.
Dentre
tantos acontecimentos da minha vida de estudante universitário em Curitiba,
quando exercia atividade política estudantil de vanguarda na esquerda daquela
época, muitos deles narrados no meu livro citado acima, farei um resumo do
capítulo (Curitiba, 1963-1964, Mudaríamos o Regime) que trata destas lembranças
a que estou me referindo.
“O ambiente político no meio estudantil de Curitiba, como de
resto em todo o Brasil, estava carregado de emoções naquele final do ano de
1963; Na qualidade de Presidente da Casa do Estudante Universitário, viajei,
sob o patrocínio do Ministério da Educação, por intermediação do Embaixador
Paschoal Carlos Magno, para Brasília no
final de 1963 com o propósito de conseguir ajuda financeira para nossa
Instituição junto ao Governo Federal.
Hospedei-me,
às expensas do Embaixador Carlos Magno, no Hotel Nacional e durante quase uma
semana, circulei pelos corredores do
Congresso Nacional e pelas salas e gabinetes do Ministério da Educação e
Cultura.
À noite,
quase que invariavelmente, reuníamo-nos no apartamento do embaixador,
juntamente com outros estudantes, de outros Estados, que estavam ali quase
sempre pelas mesmas razões que as nossas e ficávamos "batendo papo",
discutindo sobre a atualidade política, sobre os rumos que tomaríamos, caso as
ideias de João Goulart fossem, realmente implementadas, sonhávamos com o
futuro, procurando pontos de contato entre a nossa ideologia, o nosso desejo de
mudanças, com o ideário político dos nossos dirigentes.
Gostávamos
de ouvir o Embaixador falar sobre Brecht, contrapondo seu pensamento
positivista, com algumas características, segundo ele, negativistas, do famoso dramaturgo
e poeta alemão.
- A
arte, dizia ele, levantando-se de onde estava - embora deva refletir a vida do
povo, não pode ser e não é, uma corrente homogênea, como queria Brecht. Não
creio que a arte só será arte, se ela se aproximar do marxismo. Embora a arte e
a cultura devam estar sempre ao alcance do povo, não acho que este deva ser monitorado
nas suas expressões por ideias preconcebidas.
Parece
que ainda ouço o Embaixador dizer, movimentando o seu grande corpanzil pelo quarto, com gestos teatrais e
voz empolgada:
- Não
deixem de lutar pela liberdade, o maior bem do homem. O homem é um animal social,
como disse Aristóteles, há muitos séculos. O interesse coletivo não pode, em
hipótese alguma, sobrepujar ao particular; se isto acontecer, declina-se do
direito à liberdade em favor do paternalismo; por outro lado, se o
individualismo impera, sem dar importância às necessidades sociais, o resultado
será a anarquia. Em ambos casos, a consequência é a perda da liberdade. A
liberdade trágica é preferível à felicidade compulsória, já dizia o imortal
Dostoievsky. Um dia encontraremos o ponto exato!
. Eu sabia
que precisava me aprofundar um pouco mais naqueles meandros culturais, se
quisesse, realmente me colocar em uma posição de vanguarda para os novos tempos
que, a nosso ver, estavam sendo desenhados no nosso futuro.
Foi em
uma destas noitadas, que o embaixador, de uma maneira extremamente didática,
explicou-nos a conotação, não só política, mas principalmente artística,
segundo ele, do "Encouraçado
Potemkin", filme do russo Ilya
Ehrenburg, que toda a juventude daquela época, engajada nos movimentos de
esquerda, assistiu, discutiu e procurou entender.
Embora a
mordomia que desfrutávamos ali em Brasília fosse além das nossas expectativas
(nunca havia, pelo menos sonhado, em hospedar-me em um hotel com o luxo do
Nacional ), já estava cansado daquela rotina diária.
Na
sexta-feira, o embaixador, assim como quase todos os deputados, senadores e
funcionários do governo que se hospedavam no Hotel (naquela época o Hotel
Nacional era praticamente a morada oficial deste pessoal), viajaram para seus
Estados de origem. No domingo voltei parta Curitiba.”
O que
aconteceu a seguir é outra história!.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial