FAZENDA SANTA TEREZA

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

DEIXE-ME CONTAR ENQUANTO ME LEMBRO!

Hoje, antevéspera do Natal de 1995, levantei mais cedo do que o costume: 7 horas da manhã já estava “instalado” na minha cadeira de recostar, colocada na varanda da Santa Tereza.
Há um ângulo em que me coloco que me permite uma visão privilegiada da represa. Meu campo visual atravessa, inicialmente, os vãos das colunas da casa e desvia-se de vários caules de árvores estrategicamente localizadas no plano inclinado da alameda, contorna uma escultura do meu amigo Xavier e se aproxima, sem grande dificuldade, das suas margens.
Nesta “viagem”, vejo pelo caminho vários canteiros de flores, dois pequenos lagos artificiais, uma pequena, ingênua, porém elegante cascata, além de um regato tortuoso que comunica um lago com o outro.
Bem próximo da casa há um “tabuleiro” dependurado em um galho de árvore; todos os dias o jardineiro João, atendendo minhas recomendações, coloca neste comedouro improvisado, alimentos para centenas de pássaros que já se acostumaram com a pensão gratuita.
Neste momento, 8 a 10 pássaros-pretos fazem grande algazarra, chamando minha atenção, parece que agradecendo minha hospitalidade.
Se procuro um pouco mais no horizonte, visualizo, no outro lado da represa, um outro pequeno bosque que plantamos, Décio e eu, há mais de cinco anos.
Os bambus localizados nas margens da represa, já adquiriram postura adulta, suas centenas de galhos disputam, entre si, a primazia de alcançarem alturas maiores, sobrepujarem o vizinho e, por conseqüência, se fazerem notados com maior facilidade.
Há ainda o reflexo das suas imagens na água clara, imitando fantasmas que se movimentam, sem estardalhaço, quando a brisa sopra com gentileza a superfície do lençol de água.
A esta hora da manhã, um zéfiro que vinha da serra, trazia no seu rastro um perfume gentil que meu olfato identifica a sua origem - açucena.
Tenho um livro nas mãos, porém, reluto em abrir suas páginas; recosto-me com tranqüilidade e preguiça, estico as pernas no sentido do sol que inicia, com seus raios, a lamber a varanda.
Momento de quase nostalgia! Recuso-me a fechar os olhos e conversar com minhas introspecções.
Não há como deixar de viver a plenitude do momento de comunhão com a natureza.
Converso, em silêncio, com meu bom amigo Dr. Ursulino Leão; tento, pela lembrança das leituras das suas maravilhosas crônicas, fazer um elo de ligação entre a Santa Tereza e a sua adorada Fazenda São João.
Como eu gostaria de ter o poder de comunicação que ele imprime aos seus escritos para poder transmitir toda emoção que sinto na minha relação com a Santa Tereza.
“Agora são outros pássaros que tomam conta do pátio. Pego meu lugar junto ao tamboril e os aguardo. Logo vêm. A maioria se oculta nas árvores e começa a cantar. Alguns ficam passeando na cumieira do barracão. Os demais voam daqui pr’ali, bestando. E existem aqueles que aparecem sozinhos. Quase não se nota quando chegam...- Ursulino Leão, Pássaros na tarde:Grande Sertão, O Popular, 11.02.94”
Egoisticamente me sinto dono desta natureza, as flores me fitam e embriagam meu ego, os pássaros cantam só para mim, o vento balança as folhas das árvores, procurando, porém, não fazer muito barulho.
Benditas horas na Santa Tereza !

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