FAZENDA SANTA TEREZA

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

AS ORQUÍDEAS DA SANTA TEREZA

Outro dia, uma conhecida da minha mulher, ao encontrá-la foi logo dizendo:
                         - Seu marido foi o “bendito fruto entre as mulheres”; não preciso dizer que este assunto rendeu... Para que os leitores possam entender o significado desta frase tão provocante (se existisse mais gente por perto e, dependendo da entonação da voz, não sei quais seriam as consequências...), vou contar toda a historia:
                               Os jardins da Santa Tereza estavam ressentindo da presença de orquídeas entre as suas flores; lembro-me do meu pranteado amigo, o neurologista Dr. Orlando Arruda comentar sobre seu orquidário com tamanho entusiasmo que era impossível ficar impassível ao ouvir suas narrativas. Sempre pensei em visitá-lo, porém, nunca surgiu à oportunidade, lamento!
                               Há alguns meses resolvi construir um pequeno orquidário aqui na Santa Tereza; discuti com o Baiano (meu “faz de tudo”), arranjamos os esteios, caibros, ripas (comprei-os em uma madeireira localizada em nossas imediações); definimos que o lugar deveria ser arejado, porém, protegido contra os ventos; deveria ser exposto ao sol, porém, somente pela manhã e não muito intenso.
                              Alguns dos meus leitores, provavelmente, identificarão o local escolhido: próximo ao final e à direita da estradinha da entrada da Santa Tereza, bem em frente a um arranjo de três vasos de begônias (no momento estão floridas!), quase que entrando no meio do arvoredo do jardim; outro detalhe, de longe, ao iniciar a curva da estrada que dá acesso à nossa casa, já se consegue vê-lo e receber calorosa saudação de uma bela mulher estilizada, postada em uma pequena janela, rodeada de flores (comprei-a no mesmo lugar onde José Mendonça Teles adquiriu a dele e colocou-a na janela do seu Instituto de Cultura localizado à Rua 24, nr. 88, centro).
                              Como entendemos que não deveria haver cobertura, colocamos uma tela de nylon por cima dos caibros para evitar que as folhas das arvores caíssem sobre as flores e, principalmente não sujasse o piso que, aliás, foi “assoalhado” com britas; as laterais ficaram abertas.
                               Para enfeitar e também proteger as futuras habitantes da “casa” contra a excessiva presença de raios luminosos do sol poente que, antes de se esconder por detrás da “Casa amarela dos livros”, envia seus últimos tentáculos com a intenção de retardar a chegada da obscuridade, dispusemos um trançado de ripas nas suas laterais. Ficou bonito e atendeu nosso interesse de não proibir as orquídeas de receberem o sorriso do sol, apenas ajudei-as a ser comedidas o suficiente para não se exporem em demasia e não poderem aproveitar (por danos irremediáveis), no ciclo diário da vida, do frescor da noite.
                                               Na verdade, preciso retificar, em parte, o que disse acima: nos jardins da Santa Tereza já havia orquídeas, porém, estavam dispersas, grudadas em arvores, escondidas, tímidas, sem poderem mostrar a soberania das suas presenças; aproveitei a maioria delas e trouxe-as para sua nova casa.
                               No começo deste ano, quando estive na Fazenda do Dr. Iris Rezende, no Xingu, ele me presenteou com um arranjo (várias orquídeas enroscadas em um toco de madeira), coloquei-o no orquidário; com a chegada da primavera começaram a florir, na companhia de algumas outras; embora não seja um “expert” no assunto, me parece ser da espécie “cattleya labiata”, porém, nominei-a “orquídea Xingu” em homenagem ao meu amigo Dr. Iris.
                Sempre que posso, procuro aumentar minha coleção de livros e revistas sobre jardins; recentemente adquiri, em um “sebo” de Londres, com o auxilio da internet, um livro muito interessante, escrito pela senhora C.W. Earle e publicado em 1897 - “Surrey Garden; The classic diary of a Victorian lady – Diário de uma senhora jardineira de Surrey, da época da rainha Vitoria”; acho que vou aproveitar alguns ensinamentos desta senhora, principalmente esta sua frase lapidar “Fazer um jardim, pela graça de Deus, é uma das poucas coisas em que a perfeição nunca é alcançada; a palavra perfeição está muito longe, perto do infinito”.
                Embora tenha feito com carinho esta nova morada das orquídeas, sei que terei que corrigir alguns defeitos, por isto estava frequentando um curso sobre orquídeas e lá encontrei aquela amiga da minha mulher a que me referi no inicio do texto. Está explicado?



UM SONHO QUE A REALIDADE NÃO CONFIRMOU

             

                            
                               Semana passada, atendendo convocação da Maçonaria Brasileira estive, mais uma vez, em Brasília para participar da reunião do Conselho Federal do Grande Oriente do Brasil.
                   Normalmente hospedo-me em um Hotel localizado em local estratégico para minhas movimentações em torno do objetivo que me leva, a cada dois meses, à nossa capital Federal; desta vez, por descuido não fiz a necessária reserva e fiquei com poucas opções de escolha. Hospedei-me no Hotel Nacional.
                   Ao adentrar o hall do Hotel, senti uma estranha sensação  de “ Déjà vi” ao me dar conta de que a ultima vez que ali estive hospedado foi no final do ano de 1963, portanto há 50 anos .  Por que esta data aparece com tanto simbolismo? Para explicar a certeza desta afirmativa, recorro-me ao livro que publiquei em 2001 “Entre o Sonho do Brasil dos anos  60 e a Realidade da Rússia dos anos  90, Ed. Kelps”.
                   Antes de subir para o apartamento, dei uma volta pelo ambiente que domina o hall do Hotel; parece que pouca coisa mudara, segundo me lembro; observei as poltronas situadas nas imediações do balcão de recepção, parece que “vi”, confabulando em grupos separados, vários deputados e senadores (o Hotel era, naquela época, residência oficial dos parlamentares) , caminhei para a esquerda e avistei a piscina, que mantinha o  mesmo formato, rodeada por grande quantidade de mesas e cadeiras, “sentei-me” a uma das cadeiras e pedi um copo de chope.
                   Dentre tantos acontecimentos da minha vida de estudante universitário em Curitiba, quando exercia atividade política estudantil de vanguarda na esquerda daquela época, muitos deles narrados no meu livro citado acima, farei um resumo do capítulo (Curitiba, 1963-1964, Mudaríamos o Regime) que trata destas lembranças a que estou me referindo.
“O ambiente político no meio estudantil de Curitiba, como de resto em todo o Brasil, estava carregado de emoções naquele final do ano de 1963; Na qualidade de Presidente da Casa do Estudante Universitário, viajei, sob o patrocínio do Ministério da Educação, por intermediação do Embaixador Paschoal Carlos Magno,  para Brasília no final de 1963 com o propósito de conseguir ajuda financeira para nossa Instituição junto ao Governo Federal.
Hospedei-me, às expensas do Embaixador Carlos Magno, no Hotel Nacional e durante quase uma semana,  circulei pelos corredores do Congresso Nacional e pelas salas e gabinetes do Ministério da Educação e Cultura.
À noite, quase que invariavelmente, reuníamo-nos no apartamento do embaixador, juntamente com outros estudantes, de outros Estados, que estavam ali quase sempre pelas mesmas razões que as nossas e ficávamos "batendo papo", discutindo sobre a atualidade política, sobre os rumos que tomaríamos, caso as ideias de João Goulart fossem, realmente implementadas, sonhávamos com o futuro, procurando pontos de contato entre a nossa ideologia, o nosso desejo de mudanças, com o ideário político dos nossos dirigentes.
Gostávamos de ouvir o Embaixador falar sobre Brecht, contrapondo seu pensamento positivista, com algumas características, segundo ele, negativistas, do famoso dramaturgo e poeta alemão.
- A arte, dizia ele, levantando-se de onde estava - embora deva refletir a vida do povo, não pode ser e não é, uma corrente homogênea, como queria Brecht. Não creio que a arte só será arte, se ela se aproximar do marxismo. Embora a arte e a cultura devam estar sempre ao alcance do povo, não acho que este deva ser monitorado nas suas expressões por ideias preconcebidas.
Parece que ainda ouço o Embaixador dizer, movimentando o seu grande  corpanzil pelo quarto, com gestos teatrais e voz empolgada:
- Não deixem de lutar pela liberdade, o maior bem do homem. O homem é um animal social, como disse Aristóteles, há muitos séculos. O interesse coletivo não pode, em hipótese alguma, sobrepujar ao particular; se isto acontecer, declina-se do direito à liberdade em favor do paternalismo; por outro lado, se o individualismo impera, sem dar importância às necessidades sociais, o resultado será a anarquia. Em ambos casos, a consequência é a perda da liberdade. A liberdade trágica é preferível à felicidade compulsória, já dizia o imortal Dostoievsky. Um dia encontraremos o ponto exato!

. Eu sabia que precisava me aprofundar um pouco mais naqueles meandros culturais, se quisesse, realmente me colocar em uma posição de vanguarda para os novos tempos que, a nosso ver, estavam sendo desenhados no nosso futuro.
Foi em uma destas noitadas, que o embaixador, de uma maneira extremamente didática, explicou-nos a conotação, não só política, mas principalmente artística, segundo ele, do "Encouraçado Potemkin", filme do russo Ilya Ehrenburg, que toda a juventude daquela época, engajada nos movimentos de esquerda, assistiu, discutiu e procurou entender.
Embora a mordomia que desfrutávamos ali em Brasília fosse além das nossas expectativas (nunca havia, pelo menos sonhado, em hospedar-me em um hotel com o luxo do Nacional ), já estava cansado daquela rotina diária.
Na sexta-feira, o embaixador, assim como quase todos os deputados, senadores e funcionários do governo que se hospedavam no Hotel (naquela época o Hotel Nacional era praticamente a morada oficial deste pessoal), viajaram para seus Estados de origem. No domingo voltei parta Curitiba.”
O que aconteceu a seguir é outra história!.





quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

JARDINS DA SANTA TEREZA

Adquirimos a Fazenda Santa Tereza em 1972, naquela época era constituida de 18 alqueires; com o tempo fomos adquirindo algumas áreas circunvizinhas, perfazendo hoje 50 alqueires.
Meu finado sogro, Sr. Absay Teixeira, foi quem me orientou na sua compra; foi uma jornada inesquecível, o nome da fazenda é uma homenagem à santa da minha devoção e coincidentemente, nome da mãe do Sr. Absay.
É constituida de cerrado "forte" (maior parte) e áreas de campo. Possui uma bela represa, construida na década de 1980, utilizando-se do programa do governo de Leonino Caiado, chamado Goiás-rural. O arquiteto da mesma foi nosso primo Mauricio Sampaio (já falecido), filho dos nossos compadres Delermano e Silvia Sampaio (também ja falecidos).
Um dos encantos da Fazenda Santa Tereza é o seu jardim; ocupa uma área de quase meio alqueire de terra. Ao lado de flôres, lagos e muitas esculturas(exclusivamente de artistas goianos) , formamos um imenso bosque, com várias espécies de árvores, incluindo o mogno, sucupira, sibipuruna, manguba, eucalípto, etc.
As orquídeas, como não poderia deixar de ser, embelezam pela sua simples presença, são dezenas de espécies, espalhadas pelos troncos das árvores.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Milagre de Natal na Santa Tereza!


Está registrado pela história que no ano de 1935 foi realizado um Congresso Mundial de Escritores  em Paris, com o intuito de dar apoio político à antiga União Soviética que sofria pesados ataques da mídia internacional devido a “possíveis” infrigências aos direitos humanos perpetrados pelo regime socialista, sob o comando de Stalin.

                                Não é, no entanto, de política que desejo falar nesta antevéspera de Natal, quero apenas repercutir uma frase dita por Boris Pasternak (escritor russo, autor, dentre outros clássicos, do livro Dr. Jivago), foi agraciado (e obrigado a recusá-lo), com o prêmio Nobel de Literatura e por consequência foi perseguido pelo regime, tendo sido, inclusive “internado” em um vilarejo situado nas imediações de Moscou, onde acabou morrendo.

                               Durante as discussões e depoimentos havidos naquele conclave, diga-se de passagem, era presidido (simbolicamente) pelo escritor francês André Gide e comandado por André Malraux, foi solicitado a Pasternak, naquela época já bastante conhecido no ocidente,  que externasse seu ponto de vista quanto à liberdade de expressão corrente no seu pais e este disse uma frase que repercutiu mais do que muitos discursos inflamados e com proselitismos; disse ele, em mensagem cifrada, que todos entenderam:

                - Falar de política? Fútil, fútil... política? Vamos todos para o campo, amigos, vamos colher flores!

                Não sei por que, hoje, ao percorrer os jardins da Santa Tereza, parece que esta frase, literalmente falando, ecoou nas minhas movimentações entre as roseiras; usando toda a proteção que julgo necessária (luvas, chapéu, camisa de manga longa), comecei a podar as folhas que estavam amareladas e algumas rosas que estavam “murchas” (será que o Décio, nosso jardineiro, teria aumentado a dose do “caldo de folhas de fumo” que utilizamos no combate a algumas pragas?).

                Colhi algumas rosas de variadas cores e levei-as para o vaso que Marília costuma deixar sobre a mesa da sala; ficou bonito o arranjo, lembraram-me das margaridas que minha mãe costumava colher no fundo do nosso quintal em Gaspar Lopes e que as colocava em um vaso improvisado, no centro da mesa de jantar. Será que ela fazia isto na véspera de Natal? Não consigo me lembrar! Provavelmente sim, pois a nossa casa, que era muito modesta, precisava ficar enfeitada para dar a impressão ao Papai Noel que ele seria bem recebido.

                Fui ao orquidário e, para minha surpresa, surgiram três ou quatro botões em dois arranjos de orquídeas; a natureza advinha a chegada do final do ano e quer recebê-lo com enfeites e, por extensão, fazer o jardineiro lembrar-se de que tudo será diferente daqui para frente, pois prometem “pulular” o orquidário com variada gama de flores, cada qual com a sua característica própria e, principalmente, suas cores.

                De repente, perdido nas minhas elucubrações ouço o grito do Baiano vindo do lado do curral:

                - Doutor! pariu uma novilha e acho que ela não teve tempo de deitar e o bezerro caiu no chão “lá daquelas alturas” e quebrou uma das pernas, acho que ela vai enjeitar o pobre coitado!

                Fui ao curral, onde os outros dois peões já haviam imobilizado o recém-nascido, aguardando a solução a ser apresentada pelo Doutor; surgiram variados palpites, alguns estapafúrdios (acho melhor sacrificar o pobre coitado; vamos criá-lo na mamadeira, tirando todo o dia, o leite da vaca, solução esta que foi descartada por todos os outros, tendo em vista a dificuldade inaudita de conseguir autorização da novilha nelore para esta tarefa, a não ser que a coloque no tronco, o que, convenhamos, seria muito trabalhoso, tendo em vista a necessidade de se manter este ritual pelo menos por seis meses).

                Após examiná-la, constatei tratar-se de uma fratura de “Colles” (se fosse no homem... porém, não sei se existe esta designação para os animais; algum dia vou perguntar para um veterinário), ao segurar a pata direita (local da fratura) senti que o osso estava, realmente, fraturado; optei por colocar uma “tala” que fiz com um pedaço de bambu de mais ou menos 10 cm de comprimento, com diâmetro suficiente para se introduzir o membro fraturado no seu interior; cortei-o ao meio na sua extensão longitudinal, de modo a ficar duas metades.

                Forrei o leito do interior do bambu com panos, voltei a “emendar” as duas partes do bambu com ajuda de fita “crepe” e depois fixei tudo isto com várias camadas de fita adesiva; ao soltá-lo, o bezerro ficou de pé e correu para junto da mãe que já estava impaciente do outro lado do curral; a primeira coisa que ele fez, foi mamar!

                Embora a vaca nelore seja um dos animais mais “ciumentos” com a cria, normalmente ela abandona o bezerro que nasce com algum problema, principalmente o de locomoção; o Baiano, nosso funcionário, disse, sabiamente:

             - Doutor este foi um milagre do Natal!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

CONVITE A UM AMIGO PARA VISITAR A SANTA TEREZA



    

          

           



             A entrada da Fazenda Santa Tereza lhe reserva muitas surpresas, todas elas tendentes a deixar o seu dia agradável, eu acho!
                        Depois de atravessar a porteira da entrada, inicia-se uma alameda que é uma descida com pouca ou quase nenhuma inclinação do terreno; nos seus dois lados estão dispostos arranjos de flores estrategicamente localizados que lhe obrigarão a diminuir o ritmo dos passos para poder admirá-los; espero que você venha com tempo!
                        Pouco antes de chegar ao pequeno pontilhão que lhe permitirá atravessar o “rego d ‘água” que circula por quase todo o jardim, tenho certeza que você ficará tentado, ao olhar para a esquerda, a ir visitar o lago que está localizado atrás da plantação de bambus; resista à tentação e continue sua caminhada; antes de se despedir da Santa Tereza, você irá visitá-lo em minha companhia, portanto, continue...
                        Tenho observado que algumas pessoas, principalmente os jovens, não “conseguem” ver tudo o que estou lhes “mostrando” por intermédio deste texto, por isto fico tentado a repetir George Sand: “Aos vinte anos, perde-se tanto tempo e se desperdiça tanto a vida! Os nossos dias de inverno valem o dobro; ai está a nossa compensação”.
                        Não tenha pressa neste caminhar, converse com a natureza, ilumine sua visão com as flores que estão plantadas em vasos, tanto à direita como à esquerda, elas, as flores, foram colocadas ai justamente para alegrar o seu dia; alguns destes vasos são de grande porte, outros menores, aqueles colocados em cima de palanques construídos com tijolos e estes outros em cima de tocos que sobraram de alguns angicos que já cumpriram seu ciclo biológico e foram derrubados e utilizados na reforma de alguma cerca divisória de pasto.
                        O nosso funcionário Baiano ajudou-me no serviço de alvenaria e na pintura dos tocos (todos “vestidos” com calças azuis, camisas brancas e suspensórios vermelhos) e o Décio a escolher as flores a serem plantadas nos vasos colocados na “cabeça” de cada um deles; ficaram bonitos!
                        Antes de atravessar a pequena ponte, dê mais uma olhada para trás e à direita; se ainda não viu, não custa nada observar um grande e comprido canteiro de antúrios multicoloridos, protegido por uma mureta de pedras que ajudei a construir já há alguns anos; logo em seguida, à esquerda, você verá a casa do Décio, admire a sua grande varanda, observe os muitos vasos de flores e orquídeas dependurados; se você quiser visitá-los, atravessará o jardim de rosas que eles fizeram em frente da casa; algumas vezes faço isto, imite-me e apanhe uma rosa e leve para Da. Maria.
                        Não vai visitá-los agora? Não faz mal, volte depois, Da. Maria normalmente estará sentada em uma confortável cadeira colocada em local que lhe permite aproveitar o sol da manhã que acalenta suas pernas e “vigiar” o trabalho do jardineiro, seu marido; ela lhe contará muitas histórias a respeito da vida dos pássaros e das flores da Santa Tereza.
            Se você continuar a caminhada, passará por uma alameda de eucaliptos beirando o seu lado direito, alguns deles com mais de 30 anos de vida, em todos eles você verá, aos seus pés, vasos de flores; do lado esquerdo a paisagem é mais bonita (será possível ser mais bonita?), uma cerca viva de “trepadeiras” de vários matizes de cores espreitam agressivamente (agressivamente?) o olhar do visitante.
            Sei que você ficará curioso por saber que casa é aquela de cor amarela que se localiza no meio do jardim, logo depois da cerca viva de trepadeiras; gostaria que ela fosse conhecida como a “casa amarela dos livros”, porém ficou com o apelido de “anexo”, numa alusão à continuação da minha biblioteca que se localiza no interior da nossa casa, cujo espaço ficou exíguo para depositar os livros que me acompanham por tanto tempo...
            De onde você esta, não há como não ser atraído pelo orquidário (localizado no lado direito, quase que no final do caminho que você está percorrendo); sei que você será tentado a adentrar o seu recinto; não fique decepcionado com o seu tamanho (pequeno), porém a quantidade de orquídeas que você verá, apagará esta sua impressão.
            Ao vê-las, algumas em plena floração, você sentirá, mais uma vez, a presença do Grande Arquiteto do Universo e será tentado a repetir o que Alfred de Musset disse há muitos anos:
            Mas quem sabe, como Deus trabalha?
            Quem sabe se a onda que estremece,
            Se o grito dos abismos terríveis
            Se os raios e os trovões,
            Senhor, não são necessários,
            Para a pérola que os mares fazem?

segunda-feira, 12 de março de 2012

DESMAMA DE BEZERROS SEM ESTRESSE.

Como fazemos na Fazenda Santa Tereza


Quem possui fazenda de criar sabe que um dos problemas que incomoda na lida do dia/dia é a desmama dos bezerros; quase todas as maneiras que me ensinaram foram tentadas; colocar as vacas em pastos bem distantes dos bezerros que foram desmamados é uma das opções mais utilizadas, porém, como todos os que já fizeram isto sabem, não adianta, pois as vacas, ao ouvirem o berro do bezerro, vêm ao seu encontro de qualquer distância onde se encontrem e, nesta caminhada, vão arrebentando cercas, se machucando e dando trabalho aos peões para se consertar os estragos.

Utilizamos aqui na Santa Tereza um artifício que consideramos muito interessante e com muito bons resultados; descrevo-o para os interessados:

Primeiramente é necessário dizer que adotamos o sistema de “estação de monta” e as vacas que estão prenhas (toque) são separadas do restante do rebanho e colocadas em pasto separado; uma vez por semana, sempre nas segundas feiras para minha comodidade, estas vacas são trazidas para o curral, quando observamos aquelas que estão com o ubre aumentado de volume, portanto perto da parição, e as colocamos em outro pasto (pasto-maternidade).

Quando chegar a hora da desmama, normalmente todas as vacas que estão no pasto-maternidade já devem ter parido, portanto os bezerros a ser desmamados são, obrigatoriamente, filhos destas vacas; após se decidir quais serão desmamados (normalmente com sete meses de idade, embora muitos prefiram fazê-lo com seis meses, preferimos postergar um pouco mais, tendo em vista que estes nossos bezerros serão, no futuro, destinados ao abate e ao aproveitarem um pouco mais o leite da mãe serão, seguramente mais robustos), passamos à etapa seguinte.

A seleção dos bezerros a serem desmamados se dará, como vimos, pelo grupo etário dos mesmos, este trabalho é facilitado pelo fato de que ao nascerem, todos os bezerros são carimbados “a fogo” com o número do mês do nascimento, assim como do ano. Este último dado irá facilitar no futuro, o manejo das futuras vacas e garrotes (em outra oportunidade descreveremos esta utilidade).

Os bezerros serão desmamados por etapas ou lotes (as vacas, por terem sido enxertadas “a campo”, obviamente darão crias em meses diferentes); após separar os bezerros (lote) que serão desmamados, estes ficam presos no curral e as vacas (todas as que estão no pasto-maternidade) serão colocadas em um pasto localizado nas suas proximidades, de onde os bezerros podem ser avistados pelas mães e se for o caso, podem chegar até bem próximas dos mesmos, sem, contudo poderem amamentá-los, pela interposição da cerca e do curral.

No primeiro dia as vacas-mães, praticamente não arredam pé das imediações dos bezerros, só afastando para beberem água e eventualmente pastarem por algumas horas, inclusive dormem naquelas imediações; a partir do segundo dia esta vigília torna-se cada vez menor, embora os bezerros continuem berrando, elas se afastam por mais tempo da beira do curral e progressivamente, entre o 3º e 5º dia, praticamente elas não voltam mais para perto, até que no 7º. dia os abandonam por completo.

No primeiro dia os bezerros tem acesso, exclusivamente a água, mesmo porque, com a sua ansiedade, não desejam comer nada que não fosse o leite da mãe, a partir do segundo dia iniciamos a sua alimentação com capim “napier” triturado, misturado com farelo de trigo. Entre o 7º. e 10º. dia os bezerros são enviados para um pasto separado, longe de onde estão as suas mães. Cerca de 20 a 30 dias após, colocamos na sua perna esquerda, a marca da fazenda e aplicamos um vermífugo. Preferimos fazer com esta distância de tempo para não aumentar o estresse (desmama e marcação).

Acreditamos que esta técnica permite uma desmama com menos estresse, tanto para a vaca como e, principalmente para os bezerros.

Antes de encerrar gostaria de dizer que esta técnica não foi inventada por mim, foram muitas discussões e, principalmente trocas de opiniões com muitos amigos fazendeiros através dos anos. Eu, se tiver algum mérito, apenas aprimorei algum detalhe e a divulgo, com a expectativa de poder ser útil a algum companheiro.

As figuras 1, 2, 3 e 4 falam por si, vemos inicialmente (fotos 1,2) as vacas no pasto-maternidade e um lote de bezerros que foram desmamados presos no curral, e as fotos 3 e 4, mostram as vacas se aproximando dos bezerros, pois a porteira do pasto-maternidade está aberta, permitindo esta circulação pelo corredor, porém, continuam separadas pelo curral. Como detalhe gostaria de dizer que na primeira noite da desmama, quase todas as vacas (mães) dormem neste corredor, nas imediações dos bezerros.






quarta-feira, 3 de março de 2010

Bom dia!


O verão sempre chega para olvidar a primavera que partiu, e, deixa no ar, resquícios da sua onipresença; igual à inocência da menina-moça tão bonita e perfumada que caminha a passos lerdos sem ter consciência que já desperta suspiros.
Sem perceber que um sorriso seu ou um simples olhar desinteressado, poderia modificar o dia de algum vivente, continua seu percurso sem olhar para trás, serena como as rosas que receberam as primeiras chuvas.
A primavera vivida nos jardins da Santa Tereza me lembra, também, minha vida inteira; cada árvore que plantei e agora, frondosa, sombreia meus passos e provoca-me bem-estar nas tardes ensolaradas e quentes, cada pedra, aparentemente em desalinho com o ambiente, me fala de um capítulo da minha vida que continuo a escrever.
A chuva continua mantendo o mesmo ritmo de há três dias; algumas vezes cai volumosa, depois, diminui de intensidade; agora com maviosidade, porém sempre contínua.
O frio da aragem que ela provoca é gostoso e até confortante para quem se mantém abrigado ou entrincheirado dentro de casa; um vento suave e gentil empurra a chuva de encontro à vidraça, desenhando figuras que deslizam como se fossem fantasmas saídos das pinceladas rítmicas, porém, como ondas tortuosas e frenéticas de Van Gogh, vistas sem a perspectiva da distância necessária para se admirar uma obra impressionista.
A paisagem que se descortina através da porta da sala é reparadora; na posição em que me encontro, uma rosa vermelha coloca sua "cara", saudando-me com carinho, simulando a presença de uma pessoa amiga que apenas quer mostrar que está presente, porém, não quer incomodar com nenhum diálogo. O vento sopra seu caule, que não posso vê-lo por inteiro, e os movimentos que advêm desta simbiose - caule-flor - simbolizam um relacionamento de afeto dirigido em um único sentido, dela para mim.
Se eu não tivesse me sentado nesta posição em que me encontro, seguramente não teria este ângulo de visão tão privilegiado, no entanto a rosa continuaria ali, balançando, exalando perfume e emitindo influxos positivos.
Vários pássaros-pretos estão pousados no pé de jabuticaba, cantam, provavelmente desenvolvem algum diálogo que não consigo decifrar; seria a respeito da chuva que lhes dificulta a alimentação ou o seu cantar é apenas uma manifestação de euforia manifestada pela natureza, devida à presença benfazeja da irrigação do cerrado?
De repente um deles se separou do grupo e veio sentar-se em um ramo mais frágil; emitiu alguns sublimes acordes, porém, sua voz era tímida e não empolgava a quem, possivelmente, ele pretendia atrair; permaneceu sozinho por algum tempo e ao tentar mudar de posição, percebi que o seu peso era superior ao poder de sustentação do franzino galho, porém, este dobrou tão pouco que parecia que sustentava não um peso, mas apenas o desejo do pássaro-preto.

A rosa balança com ritmo e harmonia!
A chuva cai tranqüila e macia.
Bom dia Santa Tereza!