FAZENDA SANTA TEREZA

quarta-feira, 3 de março de 2010

Bom dia!


O verão sempre chega para olvidar a primavera que partiu, e, deixa no ar, resquícios da sua onipresença; igual à inocência da menina-moça tão bonita e perfumada que caminha a passos lerdos sem ter consciência que já desperta suspiros.
Sem perceber que um sorriso seu ou um simples olhar desinteressado, poderia modificar o dia de algum vivente, continua seu percurso sem olhar para trás, serena como as rosas que receberam as primeiras chuvas.
A primavera vivida nos jardins da Santa Tereza me lembra, também, minha vida inteira; cada árvore que plantei e agora, frondosa, sombreia meus passos e provoca-me bem-estar nas tardes ensolaradas e quentes, cada pedra, aparentemente em desalinho com o ambiente, me fala de um capítulo da minha vida que continuo a escrever.
A chuva continua mantendo o mesmo ritmo de há três dias; algumas vezes cai volumosa, depois, diminui de intensidade; agora com maviosidade, porém sempre contínua.
O frio da aragem que ela provoca é gostoso e até confortante para quem se mantém abrigado ou entrincheirado dentro de casa; um vento suave e gentil empurra a chuva de encontro à vidraça, desenhando figuras que deslizam como se fossem fantasmas saídos das pinceladas rítmicas, porém, como ondas tortuosas e frenéticas de Van Gogh, vistas sem a perspectiva da distância necessária para se admirar uma obra impressionista.
A paisagem que se descortina através da porta da sala é reparadora; na posição em que me encontro, uma rosa vermelha coloca sua "cara", saudando-me com carinho, simulando a presença de uma pessoa amiga que apenas quer mostrar que está presente, porém, não quer incomodar com nenhum diálogo. O vento sopra seu caule, que não posso vê-lo por inteiro, e os movimentos que advêm desta simbiose - caule-flor - simbolizam um relacionamento de afeto dirigido em um único sentido, dela para mim.
Se eu não tivesse me sentado nesta posição em que me encontro, seguramente não teria este ângulo de visão tão privilegiado, no entanto a rosa continuaria ali, balançando, exalando perfume e emitindo influxos positivos.
Vários pássaros-pretos estão pousados no pé de jabuticaba, cantam, provavelmente desenvolvem algum diálogo que não consigo decifrar; seria a respeito da chuva que lhes dificulta a alimentação ou o seu cantar é apenas uma manifestação de euforia manifestada pela natureza, devida à presença benfazeja da irrigação do cerrado?
De repente um deles se separou do grupo e veio sentar-se em um ramo mais frágil; emitiu alguns sublimes acordes, porém, sua voz era tímida e não empolgava a quem, possivelmente, ele pretendia atrair; permaneceu sozinho por algum tempo e ao tentar mudar de posição, percebi que o seu peso era superior ao poder de sustentação do franzino galho, porém, este dobrou tão pouco que parecia que sustentava não um peso, mas apenas o desejo do pássaro-preto.

A rosa balança com ritmo e harmonia!
A chuva cai tranqüila e macia.
Bom dia Santa Tereza!



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