FAZENDA SANTA TEREZA

terça-feira, 9 de junho de 2009

Nossas rosas e nossos filhos

Hélio Moreira

Quando estive na "Santa Tereza", na semana passada, plantei um canteiro de rosas no arranjo que preparamos, aproveitando a carcaça de uma carreta antiga.
Ontem, ao regá-las, notei uma infinidade de botões, pululando em quase todos os galhos de quase todos os pés.
Variada gama de cores, porém, com predominância do vermelho e do branco.
Sei que ao voltar a vê-las, daqui a algumas semana, todas já terão atingido a soberania da vida adulta.
Como são frágeis as rosas, dependentes, completamente dependentes da ação conservadora do homem.
Se não forem regadas, lutarão com todas as suas energias acumuladas e suas raízes procurarão, na profundidade do solo, algumas gotas de água, tendentes a salvá-las, porém, a permanência indefinida desta condição irá levá-las ao definhamento definitivo.
Inicialmente mostrarão, com muita evidência, que estão em sofrimento: murcharão suas pétalas; depois, estas cairão e atapetarão o chão com a maciez e a delicadeza de cores, exalando, ainda o aroma, como se estivessem bradando pelo derradeiro socorro. Por que desejam se manterem vivas? Simplesmente para alegrarem o coração dos circunstantes! Nada pedem a não ser o direito de completarem o ciclo biológico.
Comparando-as com os filhos, nossos filhos, sinto que há algo interligando os fatos, porém sem elos definitivos a manterem a corrente. Enquanto as rosas dependem, fundamentalmente, da nossa ajuda para sobreviverem e desfrutarem da onipresença da vida, nossos filhos, de repente, assumem posturas independentes das nossas ações.
No início necessitam da seiva da vida que lhes oferecemos; logo depois, como que alçados por um sopro mágico, voam para alturas, às vezes inatingíveis por nossos braços e mãos.
Enquanto o tempo vai passando célebre, escorregando pelos vãos dos nossos dedos e começamos a contagem regressiva, sentimos que os dias de separação correspondem, na nossa óptica de solidão, anos de perda do desfruto pessoal.
Ah! se eu pudesse mudar a história da minha vida, de acordo com o perfil das minhas emoções!
Ah! se eu pudesse... Imediatamente contraponho: seria justo?
Não gostaria de manter o "status" de eterno supridor da seiva que os alimenta. Acho que devem, com suas próprias forças, com suas próprias raízes, procurarem a água que os alimenta na realidade de suas vidas e com a força interior que possuem.
Sinto, no entanto que, apesar de concordar que os lançamos como se fossem uma flecha disparada rumo aos seus destinos, muitas vezes este alígero instrumento poderia, ou pelo menos deveria, ser corrigido no seu trajeto, em eventuais percalços de percurso.
Sentimo-nos eternamente responsáveis pela viagem desta flecha, mesmo que não sejamos chamados a intervir na sua trajetória, pela separação, pela distância...
A falta que eles me fazem traz-me inquietude, porque esta é avalizada pela minha incapacidade de mudar, mesmo se quisesse, o destino das suas vidas.
Gostaria de continuar desfrutando das suas companhias, ouvi-los nos seus anseios, ampará-los nas suas tristezas e vibrar com as suas alegrias.
Como eu gostaria que o tempo não contasse, que nossas vidas estacionassem e eles não tivessem necessidade de se tornarem adultos.
Quando eles voltarem, ah! quando eles voltarem, prometo a mim mesmo que vou dedicar-lhes mais do meu tempo, ouvir-lhes mais do que a necessidade de falar-lhes, segurar suas mãos com delicadeza e afeto e caminhar juntos, aproveitando o breve lapso do tempo da volta.

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