FAZENDA SANTA TEREZA

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

É... O tempo passou!...



Arranjei outro lugar para dependurar a rede; de repente, o pé de cedro que plantei às bordas do ultimo lago artificial (último, não no sentido cronológico das coisas, mas o último no ângulo de visão de onde me encontro) transformou-se em uma árvore, com caule capaz de suportar peso, aparentemente, superior à sua idade.
Hoje à tarde fiz a “estréia” do novo “ponto”; semana passada havia colocado ali um banco de madeira e, para facilitar a referência aos costumeiros freqüentadores da Santa Tereza, lembro que foi naquelas imediações que instalamos um jirau que serve de “comedor” para os pássaros.
Mais tarde minha filha Ana Paula, mais conhecida como “Timbete do pai” (quem lida com fazenda deve saber o significado do apelido), se aproximou do meu recanto, levando o Pedro a tiracolo; ele deitou-se na rede e conversamos um pouco. Discutimos amenidades, porém, senti que o assunto conseguia prender sua atenção. Falamos sobre pássaros, peixes e, sobretudo, sobre aventuras possíveis de serem implementadas pelas crianças.
Fomos despertados daquele nosso circunlóquio pela voz da minha nora Juliana, alertando-o para a necessidade de irem embora.
- Pedro, quer ficar com o vovô?
- Ô quéio... (eu quero)
- Então fica...
- Ah... vou com a mamãe e o papai!...
O atavismo filial foi superior; foram todos, fiquei com a Santa Tereza.
Nuvens escuras e carregadas pairavam por sobre nossa paisagem; enrolei a rede e vim para a varanda. Coloquei no aparelho de som uma gravação do “meu amigo” Mozart; agasalhei-me com um cobertor, abri um livro na página que estava adrede marcada, copiei alguns excertos do pensamento de Göethe e assumi a onipresença do momento.
Começou a chover, o vento esfria o ambiente e as nuvens escuras tiram um pouco do encanto da paisagem; chuva miúda e delicada...
Olhando as plantas, sinto que elas agradecem a benfazeja presença da água, que alimenta suas raízes.
De repente, tudo muda; o vento, até então tranquilo, modifica seu caráter; inicialmente açoita as árvores mais altas, principalmente os eucaliptos, vergando-os com certa desfaçatez, porém, o caule suporta galhardamente a vergasta. Foi preparado para isto! Parece que o vento, semelhantemente ao animal selvagem que conhece a sua força e acua o cervo indefeso, brinca com os compridos galhos da árvore, como se fora os cabelos soltos e esvoaçantes de uma mulher que caminha na praia.
O barulho da sibilação contra os arbustos dos canteiros de flores, principalmente os localizados nas minhas imediações lembra, pelo som lamuriante, o choro triste do canto do sabiá que, ao entardecer, procura a sua companheira que ainda não voltou.
A voz do trovão ecoa ao longe; seu antecessor, o raio, risca o firmamento e parece que tem o poder de modificar, com a sua fotografia, a intensidade da chuva. Agora é copiosa, lançando, com a sua presença, uma nota lúgubre sobre o encanto do momento.
Divago no espaço e no tempo, procurando me concentrar na imensidão do meu horizonte.
Não consigo, mesmo que eu tente, particularizar algum relevo ou reentrância; todas as mínimas coisas da Santa Tereza têm razão de ser. Parece um enorme projeto concebido pela natureza ao qual tentamos acrescentar algumas peças.
Inicialmente estas parecem estar em desalinho com o arranjo, porém, à medida que o tempo passa, este “incôndito desadorno” se incorpora à paisagem e assume matizes definitivos e passa a ser parte integrante do conjunto; se por qualquer motivo a removemos de lugar, demoramos a aceitar e acostumar com a sua falta.
Inconscientemente volto ao meu passado, sinto que aquele ano de 1999 ficou para trás; procuro pontos de contato entre aquele meu diálogo com o Pedro e outros que provavelmente tive, nas mesmas circunstâncias, com outro “personagem” que também floriu meus sonhos de criança. Faz tantos anos! O tempo passou e eu não vi!

Os anos levaram a bica e a roda d’ água,
Por onde corriam minhas emoções,
E as do tempo que passou.
Os anos levaram minha infância e, a paisagem,
De onde conversava com as estrelas
E voava com os pássaros.

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