CONVITE A UM AMIGO PARA VISITAR A SANTA TEREZA
A entrada
da Fazenda Santa Tereza lhe reserva muitas surpresas, todas elas tendentes a
deixar o seu dia agradável, eu acho!
Depois de atravessar a
porteira da entrada, inicia-se uma alameda que é uma descida com pouca ou quase
nenhuma inclinação do terreno; nos seus dois lados estão dispostos arranjos de
flores estrategicamente localizados que lhe obrigarão a diminuir o ritmo dos
passos para poder admirá-los; espero que você venha com tempo!
Pouco antes de chegar ao
pequeno pontilhão que lhe permitirá atravessar o “rego d ‘água” que circula por
quase todo o jardim, tenho certeza que você ficará tentado, ao olhar para a
esquerda, a ir visitar o lago que está localizado atrás da plantação de bambus;
resista à tentação e continue sua caminhada; antes de se despedir da Santa
Tereza, você irá visitá-lo em minha companhia, portanto, continue...
Tenho observado que
algumas pessoas, principalmente os jovens, não “conseguem” ver tudo o que estou
lhes “mostrando” por intermédio deste texto, por isto fico tentado a repetir
George Sand: “Aos vinte anos, perde-se tanto tempo e se desperdiça tanto a
vida! Os nossos dias de inverno valem o dobro; ai está a nossa compensação”.
Não tenha pressa neste
caminhar, converse com a natureza, ilumine sua visão com as flores que estão
plantadas em vasos, tanto à direita como à esquerda, elas, as flores, foram
colocadas ai justamente para alegrar o seu dia; alguns destes vasos são de grande
porte, outros menores, aqueles colocados em cima de palanques construídos com
tijolos e estes outros em cima de tocos que sobraram de alguns angicos que já
cumpriram seu ciclo biológico e foram derrubados e utilizados na reforma de
alguma cerca divisória de pasto.
O nosso funcionário Baiano
ajudou-me no serviço de alvenaria e na pintura dos tocos (todos “vestidos” com
calças azuis, camisas brancas e suspensórios vermelhos) e o Décio a escolher as
flores a serem plantadas nos vasos colocados na “cabeça” de cada um deles;
ficaram bonitos!
Antes de atravessar a
pequena ponte, dê mais uma olhada para trás e à direita; se ainda não viu, não
custa nada observar um grande e comprido canteiro de antúrios multicoloridos,
protegido por uma mureta de pedras que ajudei a construir já há alguns anos;
logo em seguida, à esquerda, você verá a casa do Décio, admire a sua grande
varanda, observe os muitos vasos de flores e orquídeas dependurados; se você
quiser visitá-los, atravessará o jardim de rosas que eles fizeram em frente da
casa; algumas vezes faço isto, imite-me e apanhe uma rosa e leve para Da.
Maria.
Não vai visitá-los
agora? Não faz mal, volte depois, Da. Maria normalmente estará sentada em uma
confortável cadeira colocada em local que lhe permite aproveitar o sol da manhã
que acalenta suas pernas e “vigiar” o trabalho do jardineiro, seu marido; ela
lhe contará muitas histórias a respeito da vida dos pássaros e das flores da
Santa Tereza.
Se você
continuar a caminhada, passará por uma alameda de eucaliptos beirando o seu
lado direito, alguns deles com mais de 30 anos de vida, em todos eles você verá,
aos seus pés, vasos de flores; do lado esquerdo a paisagem é mais bonita (será
possível ser mais bonita?), uma cerca viva de “trepadeiras” de vários matizes
de cores espreitam agressivamente (agressivamente?) o olhar do visitante.
Sei que você
ficará curioso por saber que casa é aquela de cor amarela que se localiza no
meio do jardim, logo depois da cerca viva de trepadeiras; gostaria que ela
fosse conhecida como a “casa amarela dos livros”, porém ficou com o apelido de
“anexo”, numa alusão à continuação da minha biblioteca que se localiza no
interior da nossa casa, cujo espaço ficou exíguo para depositar os livros que
me acompanham por tanto tempo...
De onde você
esta, não há como não ser atraído pelo orquidário (localizado no lado direito,
quase que no final do caminho que você está percorrendo); sei que você será
tentado a adentrar o seu recinto; não fique decepcionado com o seu tamanho
(pequeno), porém a quantidade de orquídeas que você verá, apagará esta sua
impressão.
Ao vê-las,
algumas em plena floração, você sentirá, mais uma vez, a presença do Grande
Arquiteto do Universo e será tentado a repetir o que Alfred de Musset disse há
muitos anos:
Mas quem
sabe, como Deus trabalha?
Quem sabe se
a onda que estremece,
Se o grito
dos abismos terríveis
Se os raios
e os trovões,
Senhor, não
são necessários,
Para a
pérola que os mares fazem?