Milagre de Natal na Santa Tereza!
Está
registrado pela história que no ano de 1935 foi realizado um Congresso Mundial de
Escritores em Paris, com o intuito de
dar apoio político à antiga União Soviética que sofria pesados ataques da mídia
internacional devido a “possíveis” infrigências aos direitos humanos perpetrados
pelo regime socialista, sob o comando de Stalin.
Não
é, no entanto, de política que desejo falar nesta antevéspera de Natal, quero
apenas repercutir uma frase dita por Boris Pasternak (escritor russo, autor,
dentre outros clássicos, do livro Dr. Jivago), foi agraciado (e obrigado a
recusá-lo), com o prêmio Nobel de Literatura e por consequência foi perseguido
pelo regime, tendo sido, inclusive “internado” em um vilarejo situado nas
imediações de Moscou, onde acabou morrendo.
Durante as
discussões e depoimentos havidos naquele conclave, diga-se de passagem, era
presidido (simbolicamente) pelo escritor francês André Gide e comandado por
André Malraux, foi solicitado a Pasternak, naquela época já bastante conhecido
no ocidente, que externasse seu ponto de
vista quanto à liberdade de expressão corrente no seu pais e este disse uma
frase que repercutiu mais do que muitos discursos inflamados e com proselitismos;
disse ele, em mensagem cifrada, que todos entenderam:
- Falar de política? Fútil, fútil...
política? Vamos todos para o campo, amigos, vamos colher flores!
Não sei por que, hoje, ao
percorrer os jardins da Santa Tereza, parece que esta frase, literalmente
falando, ecoou nas minhas movimentações entre as roseiras; usando toda a
proteção que julgo necessária (luvas, chapéu, camisa de manga longa), comecei a
podar as folhas que estavam amareladas e algumas rosas que estavam “murchas” (será
que o Décio, nosso jardineiro, teria aumentado a dose do “caldo de folhas de
fumo” que utilizamos no combate a algumas pragas?).
Colhi algumas rosas de variadas
cores e levei-as para o vaso que Marília costuma deixar sobre a mesa da sala;
ficou bonito o arranjo, lembraram-me das margaridas que minha mãe costumava
colher no fundo do nosso quintal em Gaspar Lopes e que as colocava em um vaso
improvisado, no centro da mesa de jantar. Será que ela fazia isto na véspera de
Natal? Não consigo me lembrar! Provavelmente sim, pois a nossa casa, que era
muito modesta, precisava ficar enfeitada para dar a impressão ao Papai Noel que
ele seria bem recebido.
Fui ao orquidário e, para minha
surpresa, surgiram três ou quatro botões em dois arranjos de orquídeas; a
natureza advinha a chegada do final do ano e quer recebê-lo com enfeites e, por
extensão, fazer o jardineiro lembrar-se de que tudo será diferente daqui para
frente, pois prometem “pulular” o orquidário com variada gama de flores, cada
qual com a sua característica própria e, principalmente, suas cores.
De repente, perdido nas minhas
elucubrações ouço o grito do Baiano vindo do lado do curral:
- Doutor! pariu uma novilha e
acho que ela não teve tempo de deitar e o bezerro caiu no chão “lá daquelas
alturas” e quebrou uma das pernas, acho que ela vai enjeitar o pobre coitado!
Fui ao curral, onde os outros
dois peões já haviam imobilizado o recém-nascido, aguardando a solução a ser
apresentada pelo Doutor; surgiram variados palpites, alguns estapafúrdios (acho
melhor sacrificar o pobre coitado; vamos criá-lo na mamadeira, tirando todo o
dia, o leite da vaca, solução esta que foi descartada por todos os outros,
tendo em vista a dificuldade inaudita de conseguir autorização da novilha
nelore para esta tarefa, a não ser que a coloque no tronco, o que, convenhamos,
seria muito trabalhoso, tendo em vista a necessidade de se manter este ritual pelo
menos por seis meses).
Após examiná-la, constatei
tratar-se de uma fratura de “Colles” (se fosse no homem... porém, não sei se
existe esta designação para os animais; algum dia vou perguntar para um
veterinário), ao segurar a pata direita (local da fratura) senti que o osso
estava, realmente, fraturado; optei por colocar uma “tala” que fiz com um pedaço
de bambu de mais ou menos 10 cm de comprimento, com diâmetro suficiente para se
introduzir o membro fraturado no seu interior; cortei-o ao meio na sua extensão
longitudinal, de modo a ficar duas metades.
Forrei o leito do interior do
bambu com panos, voltei a “emendar” as duas partes do bambu com ajuda de fita
“crepe” e depois fixei tudo isto com várias camadas de fita adesiva; ao
soltá-lo, o bezerro ficou de pé e correu para junto da mãe que já estava impaciente
do outro lado do curral; a primeira coisa que ele fez, foi mamar!
Embora a vaca nelore seja um dos
animais mais “ciumentos” com a cria, normalmente ela abandona o bezerro que
nasce com algum problema, principalmente o de locomoção; o Baiano, nosso
funcionário, disse, sabiamente:
- Doutor este foi um milagre do
Natal!
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